A subdesenvolvida estética do Transe
PRELÚDIO:
A tentativa de narrar a "minha estética" dentro do audiovisual pode tomar uma faceta pedante, ou pior, um juízo de valor sobre o entendimento da amplitude artística. Porém, após uma exposição ostensiva de estética cinematográfica e de linguagens que rompem com o rasos e vazios sentidos behavioristas do entretenimento ou da lógica explicada decidi tentar teoriza-la.
Pois bem, vou tentar, narrando as experiências que vivi escrevendo, dirigindo e produzindo os curtas com minha assinatura, mostrar a lógica da Sub-desenvolvida Estética do Transe, entendimento que só tive tempos depois de produzi-los.
Cabe ressaltar que os curtas "Fora do Ar" (argumento, roteiro e direção), "Ta Aí" (argumento, roteiro, produção, edição e direção), "Saiu pra comprar cigarro e matou um cara" (argumento, roteiro, edição e direção) e "Tons de Luxo" (direção) não foram pensados/executados tentando seguir uma linha estética, pelo menos não conscientemente.
A tentativa de narrar a "minha estética" dentro do audiovisual pode tomar uma faceta pedante, ou pior, um juízo de valor sobre o entendimento da amplitude artística. Porém, após uma exposição ostensiva de estética cinematográfica e de linguagens que rompem com o rasos e vazios sentidos behavioristas do entretenimento ou da lógica explicada decidi tentar teoriza-la.
Pois bem, vou tentar, narrando as experiências que vivi escrevendo, dirigindo e produzindo os curtas com minha assinatura, mostrar a lógica da Sub-desenvolvida Estética do Transe, entendimento que só tive tempos depois de produzi-los.
Cabe ressaltar que os curtas "Fora do Ar" (argumento, roteiro e direção), "Ta Aí" (argumento, roteiro, produção, edição e direção), "Saiu pra comprar cigarro e matou um cara" (argumento, roteiro, edição e direção) e "Tons de Luxo" (direção) não foram pensados/executados tentando seguir uma linha estética, pelo menos não conscientemente.
- 1º Postulado -
"O transe inconsciente tem uma linha tênue com a alienação política, emocional ou cultural, já o transe consciente é a busca do desbunde, da contradição junto ao conformismo, formando assim uma semi-consciência. Enquanto isso o subdesenvolvimento vai catalisado tudo, o que quer que seja ."
"O transe inconsciente tem uma linha tênue com a alienação política, emocional ou cultural, já o transe consciente é a busca do desbunde, da contradição junto ao conformismo, formando assim uma semi-consciência. Enquanto isso o subdesenvolvimento vai catalisado tudo, o que quer que seja ."
Vida Fácil: O sub-desenvolvido transe cultural e a dicotomia reação-inanição
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A inalienável Alienação era o cargo chefe. O anarquismo da letra de uma música de uma banda de amigos era o combustível. Um clipe talvez, ou não, algo mais amplo e totalmente irrelacionável.
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Estavamos, eu e o Philipe Bastos, sentados no gramado do Espaço Cultural de Palmas (hoje Espaço Cultural José Gomes Sobrinho) esperando por mais alguma reunião do movimento estudantil. Éramos do Centro Acadêmico e acabávamos de entrar para as discussões políticas da comunicação e da cultura, tudo era muito novo e entusiasmaste. Passava por lá, coincidentemente, Mariana Barros, estudante de publicidade e velha conhecida de festas na arse 24. Surgia a primeira chance de produzir um curta. O argumento era um velho conhecido de gaveta mental, até então sem nome, que narrava um personagem na ilusão da mídia (mulheres, cerveja, dinheiro fácil e futebol) e sua futura indignação e reação virulenta à sua sub-condição.
De dinâmica simples, o argumento iria narrar o sonho/enganação do personagem. Ainda lembro quando senti pela primeira vez o gosto estético desse transe que eu tentava contar. A cidade era Imperatriz, no Maranhão. O bar/covil/junkieplace tinha como nome TNT, e uma banda chamada Noise Verm esmurrava notas de punkmetal (ou algo do tipo), os punks e aspirantes a punks rodavam dando socos e pontas-pé uns nos outros. Aquilo era a expressão da ligação entre a semi-consciência com a atitude (questionável ou não) e era aquilo que eu queria mostrar.
Na primeira reunião para discutir o roteiro, fui convencido (graças a Deus) a mudar o final que narrava um personagem surtado, possuído pela indignação quebrando sua casa toda. A produção (o mesmo Philipe Bastos do Espaço Cultural mais um outro amigo do CA, Renato Brasil) não considerou a cena dentro das possibilidades da nossa modesta produção.
Estava lá, e eu nem vi, a condição do subdesenvolvimento exigindo uma nova visão para aquele conflito. A violência ou explosão já não seria cabível, e culturalmente, quando o homem não tem autonomia para "deixar o vagão correr solto", acaba se adequando e conformando. O caminho do personagem mudou, o rompimento com o transe, que foi imposto a ele, cria uma relação de dependência que o faz refletir em segundos sobre seu recolhimento social, mas o transe volta e desta vez o personagem não está dormindo. Justifica-se a escolha das trilhas (apesar de ter sido totalmente despretensiosa); Björk compõe um melodia a lá caixinhas de música, o rompimento acontece quando Edith Piaf dramatiza a música "La Foule", o pós-moderno dá a vez ao espírito romântico, que não vê finalidade nele mesmo. O transe dá lugar a consciência, que também não vê continuidade nela mesma. Após acordar o personagem prefere voltar a dormir.
Da montagem, que recebeu uma tímida (principalmente em questões técnicas) participação de minha parte e da parte da Mariana (que assumira o papel de co-diretora), conseguiu resolver vários buracos e ambigüidades narrativas. Salve André Araújo, que foi além de editor, câmera e grande guru do curta. A propósito, esse curta viria a se chamar "Fora do Ar" e foi premiado no festival de cinema de vídeo de Palmas (CHICO) em sua edição de 2004, como o melhor curta universitário pelo júri popular. Avaliação final, o curta que quase se chamou "Vida Fácil" teve uma desamarração narrativa que me orgulhou, já a narrativa em si, nem tanto.
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- 2º Postulado -
"A música é a cadência do transe."
"A música é a cadência do transe."
"Ta aí", o raquitismo da subdesenvolvida Estética do Transe
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O raquitismo estético é a simplicidade à da trama. Além de não importar mais a qualidade técnica do formato, a qualidade do que se passa dentro da tela será reflexo simples das complexidades que a atuação humana pode alcançar, nos seus mais diversos aspectos dentro do vídeo.
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O ano de 2005 viria, assim como meu transe out, nada seria produzido. Tentativas institucionais parariam na falta de estrutura ou competência. Mas o estágio no laboratório Audiovisual do curso de Comunicação da UFT me traria um aprendizado técnico de utilizar-me de recursos muito menos que mínimos para produzir.
Inclusive, um material bruto que foi perdido ao preço da aprendizagem, foi rodado com o marginal Tácio Pimenta e o ator/cantor/bailarino/poeta Thiago Ramos. Um transeunte (Tácio) da semi-consciência desperta em um lugar estranho, bastaram poucos passos pela casa para perceber que não era ali que ele deveria estar. Ao tentar deixar o recinto encontra com um cadáver (Thiago).
Tão sem fim quanto aconteceu esse ensaio de vídeo, surgiu o “Ta Aí”, em 2006. A organização de um encontro estudantil me deixou numa sub-condição, o subterfúgio estava em, sempre que possível, horas de música e de ócio absoluto. A fermentação artística do ócio junto com as preocupações políticas do evento expurgaram uma antiga reflexão que eu tentava ter sobre as relações humanas.
"Ta Aí" narra um possível casamento, ou um possível namoro ou uma provavel relação extra-conjugal. Talvez o apelo através do começo óbvio, D'ele (Piettro Lamonier) protagonizando uma cena de violência contra Ela (Mili Freitas), tivesse o papel de indicar um caminho para o público, fazendo com que eles começacem por entender aquilo como real. Só que, logo depois, fica claro que se trata de um transe e o primeiro passo é mostrar a irrelevância dos opostos. No momento, a construção dos personagens e seus respectivos sentimentos de ódio idêntico dita algo relacionavel a um materialismo dialético sentimental e a "vingança" dela passa ser o real. Em um transe cruzado, estão os dois deitados abraçados, descontruindo todo o ódio mostrado anteriormente.
Tão breve e simples quanto a marchina de Joubert de Carvalho (cantada por Tom Zé), a trama se desenrola na grande questão do vídeo. Onde está o racional, qual dos dois lados do vídeo não é transe? O relacionamento é o transe do amor e do ódio também. O raquitismo narrativo aponta o fim do vídeo com um trocadilho infâme (típico da minha mal-sucedida veia humorística).
"Ta aí" foi escrito/ensaiado/gravado em um espaço de tempo curtíssimo, só a "montagem honesta" (segundo o jornlista Luis Melchiades) se estendeu por um tempo um pouco maior. Logo depois de finalizado (em formato VCD, por falta de uma gravadora de DVD) o vídeo foi exibido no programa "Cinematoca" que passava na afilidada da TV Cultura no Tocantins. Inscrito a duras penas no festival Chico (que só voltaria a contecer em dezembro de 2006) e sem muita concorrência, foi premiado como melhor vídeo universitário pelo juri popular, melhor vídeo universitário no juri oficial e como melhor vídeo tocantinense.
Quanto a mim em relação ao "Ta Aí", sigo um ciclo de amor e ódio com ele. A metalinguagem também é um transe.
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- 3º Postulado -
"O transe é extremamente racional, mas é de seu princípio não se reconhecer como tal."
O suicídio do Super-Homem: Um transe existencialista
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"Assumindo o papel de seu maior inimigo, o ser-humano se trai em um jogo de pensamentos que o fazem acreditar estar em uma outra condição que não o transe. Ele não é capaz de entender ou aceitar aquilo que mais quer."
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O raquitismo é uma experimentação estética muito positiva, porém é difícil aceita-la como condição permanente. Na oportunidade/obrigação acadêmica de produzir um curta com uma equipe de produção percebi que quanto mais se tenta explicar mas se entende e menos se esclarece para outras pessoas. A dispersão por estar coordenando alguém não me permitiu explorar os recursos fílmicos que desejava, a edição, que estava propondo um trabalho de vetorização, ficou pela metade. Percebi que a idéia de teorizar os sentimentos de transe seria frustrada pelo fato dela ser ofuscada pelo único recurso que realmente ficou bom... o jogo de câmera, o que foi vital para que o filme se visesse entender como um transe, mas perdeu o foco.
Avaliação: péssima, um ótima oportunidade perdida. Quem sabe com uma verba boa, uma equipe mais madura e uma boa inspiração.
Avaliação: péssima, um ótima oportunidade perdida. Quem sabe com uma verba boa, uma equipe mais madura e uma boa inspiração.
1 Comments:
bicho, agora me liguei num erro de comentário que fiz. quando eu dizia "montagem honesta" eu tava entendendo e querendo dizer "produção honesta". eu tava dizendo montagem no sentido de produção, como ocorre no teatro, equecendo que em filmes a montagem já é outro processo... acho que foi por isso que vc questionou o comentário... agora vou ler esse texto de novo e tentar entender o que ainda não entendi...
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